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I love mankind; it's people I can't stand.
Charles M. Schulz

 

setembro 25, 2010

 

Besnard Lakes

Really, really enjoying it :)

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setembro 20, 2010

 

Aposta

Do Canadá, só coisas boas.

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maio 19, 2010

 

Que pérola….

 

Vejam lá se adivinham quem é, NOS DIAS DE HOJE, este estudante em tempos ferrenho maoísta.

….Ele há coisas….

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abril 10, 2010

 

Círculos Uninominais

Num fim de semana que parece ter visto o ressurgimento tímido, através de uma nova liderança, de uma nova possibilidade de Oposição em Portugal, ainda não vejo ninguém a falar nesta reforma do sistema eleitoral:

in O Insurgente

(Este post resulta da adaptação de dois posts, um bastante recente, outro mais antigo, sobre este assunto, ambos publicados aqui)
O João Miranda toca num ponto interessante, quando se refere ao "caso" das faltas dos deputados. De facto, mais importante que as faltas em si, é a falta de responsabilização do comportamento dos deputados. Faço uma pequena comparação com Inglaterra. Há alguns meses, George Galloway, deputado, entrou numa das muitas versãos do Big Brother lá do sítio. Durante várias semanas, faltou ao Parlamento. Acima de tudo, porque pode. Não precisa de estar lá todos os dias, só vota naquilo que quer votar. Mas o registo dos seus votos é público. O facto de ter faltado quando se deu uma votação importante relativa à sua circunscrição eleitoral é conhecida. E como, em Inglaterra, os deputados são eleitos em círculos uninominais, os seus eleitores, plenamente conscientes do comportamento do seu representante, poderão, nas próximas eleições, penalizá-lo. Votar noutro candidato. George Galloway faz aquilo que muito bem lhe apetece. Mas será responsabilizado directamente por isso. Os nossos deputados fazem o que o partido lhes manda, sem qualquer forma de serem pessoalmente responsabilizados pelo seu comportamento. Os maus não são penalizados, e os bons não são recompensados. A mediocridade, obviamente, ganha.
A ideia é velha. O Governo, recentemente, deu-lhe ar de novidade. A possibilidade de alterar a lei eleitoral para criar círculos uninominais é hipótese há muito defendida por (quase) tudo o que é liberal, criticado por tudo o que é partido pequeno, e com atitude dúplice por parte dos dois maiores. Sempre olhei com cepticismo para essa possível alteração. Mas olhei com mais do que olho hoje.
Os círculos uninominais têm vantagem óbvias. Ao votarmos num candidato, num só candidato, ele passa a ser responsabilizado directamente, o que resulta numa maior responsabilização também do próprio eleitor. Responsabiliza o deputado porque o obriga a fazer campanha de "porta-a-porta", apresentando-se como candidato aos seus eleitores de forma directa. Impediria a substituição directa e de forma obscura de um deputado que sai por um outro que ninguém sabe quem é. Com círculos uninominais, a saída de um deputado implica uma eleição intercalar no círculo pelo qual foi eleito. Dá-se maior margem de independência ao deputado, visto que este passa a ter maior legitimidade democrática para desobedecer às ordens do partido. E responsabiliza o eleitor porque essa maior proximidade lhe permite conhecer melhor o que cada um dos candidatos a representá-lo propõe. Para além de que facilitaria a formação de maiorias absolutas, e portanto, aumentaria as condições de governabilidade.
Reconheço todas essas vantagens. E tendo o caso inglês como modelo, tudo me faria inclinar para esta opção. Mas, e sem querer parecer o dr. Portas, Portugal não é o Reino Unido. A nossa falta de cultura democrática, mais, de cultura liberal, poderia transformar as vantagens dessa proximidade nas desvantagens da demagogiazinha caciquista. O deputado que é eleito para defender os interesses da "terra", ou melhor, os empregos estatais (ou subsidiados pelo Estado) da "terra". Basta olhar para algumas das nossas Câmaras Municipais para termos uma amostra do que poderia ser o nosso Parlamento. E o caso de Daniel Campelo permite-nos não ter de ir tão longe sequer. Daí o meu cepticismo.
Mas reconheço que a situação está a chegar a um ponto insustentável. A quantidade de deputados que saem e entram sem os cidadãos darem por isso, quanto mais saberem quem eles são. O controlo quase total, ou total mesmo, por parte das direcções dos partidos, do sentido de voto dos seus deputados. O desprestígio do Parlamento, cada vez maior, e cada vez mais perigoso. Tudo isto me leva a pensar que não sendo perfeitos, os círculos uninominais seriam uma melhor opção que o actual estado de coisas. E mesmo o eventual caciquismo, a eventual demagogia da "defesa da terra", seria também da responsabilidade dos cidadãos. Aquilo que a prudência aconselharia a funcionar como uma diluição do poder, evitando a sua concentração, para evitar "ditaduras da maioria", em Portugal, transformou-se numa total diluição da responsabilidade. É esse quadro que precisa de mudar.
Mas essencialmente, o que precisaria ser alterado seria todo o papel, cada vez mais degradado, do Parlamento. Criar uma sessão semanal, em vez de mensal, de perguntas ao Primeiro-Ministro, sem agenda definida pelo governo, mas sim com total liberdade de escolha de tema a cada um dos deputados. Atribuir-se maior margem de manobra às oposições. Criar a obrigatoriedade dos Ministros de um governo terem sido eleitos como deputados nessa legislatura. Aumentar os vencimentos dos deputados. E não ceder cada vez maiores responsabilidades legislativas(as de um Parlamento) à "Europa". Uma maior saúde da nossa democracia teria de passar por aqui. Os círculos uninominais poderiam ajudar. Mas só por si, seriam insuficientes.

 

Porque era disso que me referia no inicio deste post, sobre a eleição de Pedro Passos Coelho: Mesmo depois deste ressurgimento nos parecer trazer algo de esperançoso, e sem as reformas de regime que se impõem, o Rei continua nú.

Círculos uninominais

«Ainda as listas»

Por António Barreto.
Jornal "Público", 16 de Janeiro de 2005.

«A discussão sobre os sistemas eleitorais pode, em plena campanha, parecer extemporânea. Não é a altura adequada a mudar as regras e as atenções estão mais viradas para os temas próprios da operação, seja a habitual demagogia, sejam os problemas sociais e políticos. No entanto, a oportunidade é maior do que parece: diante de nós estão todos os exemplos do sistema absurdo em vigor. E também é pertinente convidar os partidos a definirem, nos programas, as suas opiniões sobre o assunto.

Um dos motivos invocados para debater ou corrigir o sistema eleitoral consiste na necessidade de produzir um parlamento melhor e eleger deputados mais capazes. Eis uma ideia errada que corre o risco de tornar inúteis as discussões. Nada garante que as actuais listas blindadas de candidatos substituíveis produzam deputados inferiores ou superiores aos que resultariam de listas individuais e de círculos uninominais. Mesmo que fossem permitidas as candidaturas independentes, que defendo, ou que fossem proibidas as substituições dos eleitos, que preconizo, nenhum dispositivo miraculoso faria com que os felizes vencedores fossem impolutos, competentes e de dedicados servidores da causa pública.

Os argumentos sobre o valor do deputado desnaturam o debate. Na verdade, o que está em causa são os eleitores, não os eleitos. O aspecto mais importante de um sistema eleitoral é o poder conferido ao eleitor, não a qualidade do órgão eleito. É nesse sentido que defendo a criação de círculos uninominais; a proibição de substituições de deputados eleitos; e a possibilidade de apresentação de candidaturas independentes. Como não existem sistemas eleitorais perfeitos, sei que o de círculos uninominais tem defeitos. Mas também sabemos que existem dispositivos para os compensar ou corrigir. Em França, na Grã Bretanha, na Irlanda, na Alemanha, na Dinamarca e noutros países, há sólidas experiências consolidadas. Por mim, prefiro o sistema uninominal a duas voltas, como em França, mas não me choca que outros sejam os correctores, como, por exemplo, um círculo nacional.

Não sei, repito, se os círculos uninominais fazem melhores ou piores deputados do que aqueles que temos. Nem sei se os círculos uninominais estimulam ou travam os deputados pára-quedistas impostos pelo chefe nacional do partido e por Lisboa, inquietação expressa por Vital Moreira neste jornal. Mas sei que, com tempo, os círculos uninominais alteram, a favor do eleitorado e das comunidades locais, incluindo as secções dos partidos, a relação de forças com a capital e os dirigentes partidários. E é isso que pretendo: um sistema eleitoral que dê ao eleitorado a capacidade de identificar o mandato que confere, isto é, de saber em quem vota e de ter a certeza de que o eleito cumpre o seu mandato até ao fim (ou que, se o não fizer, o seu lugar não será preenchido por obscuro suplente, mas sim substituído por nova eleição parcial). O que desejo é que o eleitor tenha nas suas mãos um boletim de voto em que constem os nomes de pessoas, cada uma representando um partido, um grupo, uma ideologia, um interesse ou mesmo um capricho. Não quero que o eleitor tenha nas mãos um boletim de voto com logotipos e emblemas.

Pretendo que os cidadãos, nas suas comunidades, organizados ou não em partidos, tenham a capacidade de se entenderem na escolha de um candidato; ou possam escolher, entre vários do mesmo partido, o favorito; ou consigam negociar com o poder central do partido a designação, entre indígenas e pára-quedistas, do candidato; ou finalmente possam procurar, noutras paragens, um candidato que julguem ser capaz de defender as suas ideias e os seus interesses.

Com os círculos uninominais, confere-se mais liberdade individual ao deputado eleito. A vantagem não é sobretudo dele, ou não tanto dele, mas, uma vez mais, do eleitorado. Este ficará melhor representado se o seu deputado tiver uma independência razoável que lhe permita negociar em permanência com os poderes centrais. Um deputado mais livre e mais independente dos chefes partidários fica, ao mesmo tempo, mais dependente do seu eleitorado. O que é positivo. O objectivo é o de reforçar esta dependência, não para tolher o seu papel de representante, mas para lhe permitir negociar as duas dependências, do partido nacional e do organismo local ou da comunidade a que pertence.

Desejo que os eleitores tenham mais liberdade, mais força e mais escolhas e não estejam limitados aos candidatos oficiais dos partidos. Quero que tenham a possibilidade de votar em candidatos independentes ou de partidos locais ou mesmo de grupos de interesses efémeros. Essa mera possibilidade aumenta os poderes dos eleitores e dos membros locais dos partidos, que ficariam assim mais bem armados para negociar a selecção de candidatos. Não esqueço que uma das capacidades dos cidadãos ou órgãos locais dos partidos será a de procurar, fora das suas fronteiras territoriais, candidatos fortes e conhecidos. A liberdade do cidadão não se pode limitar a ter de escolher entre as pessoas da sua comunidade: pode muito bem acontecer que se sinta mais bem representado por uma figura exterior. Desde que desejada e negociada.

Os círculos uninominais transformam um deputado eleito em representante de toda a comunidade do seu círculo. Em contraste, as listas partidárias blindadas, em sistema proporcional, fazem dos deputados representantes dos partidos. Em Portugal não há um deputado de Vila Real, de Benfica ou de Loulé, mas sim do PSD, do PS ou do PCP. Com deputados de círculo, qualquer cidadão, em qualquer comunidade, pode dirigir-se ao seu deputado, sem olhar às suas preferências partidárias. A proeminência partidária (na verdade, um monopólio) é tal que há em Portugal muita gente que não tem deputado. Com o sistema que temos, seria necessário que os partidos tivessem deputados em todos os distritos para que toda a gente se sentisse representada.

Em resumo. A questão pode parecer obscura, distante dos problemas emocionantes da saúde e do desemprego. Mas, na verdade, é no sistema eleitoral fechado, de monopólio partidário e de irresponsabilidade individual que reside uma das causas do mal-estar político crescente em que vivemos. Um sistema eleitoral estabelece regras e relações de força entre os cidadãos e as organizações políticas, entre eleitores e partidos, entre as comunidades locais e o poder central. Em Portugal, essa relação é desequilibrada, sempre em detrimento do eleitor, do cidadão, da comunidade e da organização local do partido ou dos interesses. É esse desequilíbrio que importa corrigir, recorrendo aos círculos uninominais e a um sistema aberto. Quase só os dirigentes partidários o negam. Percebe-se porquê. Como sempre, o voto é uma arma. Mas hoje, não é do povo: é dos chefes de partido.»

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março 29, 2010

 

MASSIVE. ALLWAYS

ADOREI ADOREI ADOREI

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fevereiro 06, 2010

 

Rádio. Sempre.

Dois dos programas mais hilariantes que tenho ouvido em rádio:

The Debaters

Wiretap

>> Na CBC Radio One.

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Que para quem ainda esteja lembrado, é a música do arrebatador final da série Six Feet Under.

~

Everything Ends….

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Determinantes sociais da Saúde

>> Jornal de Negócios

O título deste artigo sintetiza a principal conclusão de um notável relatório lançado recentemente pela Organização Mundial da Saúde. Coordenado por Michael Marmot, uma referência incontornável na área dos "determinantes sociais da saúde", ...

Coordenado por Michael Marmot, uma referência incontornável na área dos "determinantes sociais da saúde", e tendo a colaboração, entre outros especialistas, do Prémio Nobel da Economia Amartya Sen, este relatório oferece-nos um retrato realista da extensão das desigualdades nacionais e internacionais na área da saúde, dos mecanismos sócio-económicos que as geram e dos principais meios para as superar. Fá-lo através de uma impressionante recolha de evidência estatística, de estudos de caso e de análise histórica e institucional. O assunto não admite relativismos de nenhuma espécie e sobretudo não admite o subjectivismo egoísta que justifica todas as insanas utopias de mercado. Trata-se aqui de uma questão de vida ou de morte. E as utopias de mercado matam. Literalmente.
Os EUA são o país mais rico do mundo e o que mais gasta, em percentagem do PIB, com o seu ineficiente sistema privado de saúde. No entanto, a esperança média de vida é das mais baixas entre os países desenvolvidos. Um norte-americano branco e rico pode esperar viver oitenta anos enquanto que um norte-americano negro e pobre apenas pode esperar viver sessenta e três, menos um ano do que um habitante das Filipinas. Do outro lado do Atlântico, a desigual Grã-Bretanha apresenta padrões idênticos. Na cidade de Glasgow, por exemplo, alguns quilómetros de distância determinam que dois cidadãos de uma mesma comunidade política possam esperar viver cinquenta e quatro anos ou oitenta e dois anos.
A maior vulnerabilidade à doença é uma das injúrias mais marcantes das cavadas divisões de classe. A precariedade laboral, sintoma de vulnerabilidade numa esfera essencial da vida, também tem um impacto negativo na saúde dos indivíduos. A identificação de padrões relevantes e dos seus mecanismos causais multiplica-se ao longo do relatório. Os países com maiores desigualdades económicas tendem a exibir, para níveis mais ou menos idênticos de desenvolvimento económico, piores indicadores nesta área. A maior robustez do Estado Social, a natureza pública da provisão de bens essenciais, o alcance das políticas públicas de redistribuição ou a maior e melhor regulação dos mercados, em especial do "mercado de trabalho", são decisivos para que todos os cidadãos possam ter vidas longas e saudáveis. A natureza da provisão dos serviços de saúde é obviamente parte essencial destes "determinantes sociais". Os sistemas públicos e universais, financiados por impostos progressivos, são, segundo o relatório, a melhor solução. Neste contexto, conclui-se sensatamente que "a comercialização de bens sociais vitais, como a educação e a saúde, produz iniquidade na área da saúde". É por isso que "a provisão destes bens sociais vitais deve ser da responsabilidade do sector público, em vez de ser deixada aos mercados". A evidência estatística não mente. Quanto maior é o peso das despesas privadas no total das despesas em saúde, menor é a esperança de vida. A evidência histórica também não mente. O relatório tem o grande mérito de nos lembrar indirectamente, pelos bons exemplos que menciona, dos países nórdicos ao Estado indiano de Kerala, o que já se sabia por outros estudos: movimentos sindicais e socialistas com poder ajudam muito.
A saúde das pessoas é então o resultado das suas circunstâncias sociais. É por isso preciso, como dizia Karl Marx, ter a capacidade de organizar humanamente essas circunstâncias. Quando tal não acontece, quando os recursos, as oportunidades e o poder são distribuídos de forma excessivamente desigual, então, como mostra o relatório, a possibilidade de grupos sociais bem identificados, por questões de classe, de género ou de etnia, terem acesso às condições que permitem o florescimento humano é posta em causa. A teoria social e as nossas melhores intuições morais dizem-nos assim que estamos perante uma situação de injustiça social evitável. O relatório mobiliza ambas para nos informar sobre a forma como as múltiplas faces da injustiça prejudicam a nossa saúde. Como sempre acontece, superá-las é a tarefa inadiável de uma comunidade política digna desse nome.


Nota: O relatório está disponível em www.who.int/social_determinants. Para uma boa síntese da literatura académica sobre o assunto, o leitor interessado pode consultar com proveito Richard Marmot e Richard G. Wilkinson (orgs.), Social Determinants of Health, Oxford, Oxford University Press, 2006 e Richard G. Wilkinson, The Impact of Inequality – How to make sick societies healthier, Londres, Routledge, 2005.

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novembro 11, 2009

 

Alô Brasil?

Sentindo misógino o suficiente, para escrever isto.

A respeito do folhetim que se passou na Universidade de Bandeirantes (Uniban), desse país considerado liberal como é o grande Brasil. Ao que parece, uma estudante assim para o atrevidinha tem enfrentado a comunidade universitária com a sua atitude indumentária, leia-se a bela da saia curta. Comunidade essa que, ao contrário das comunidades universitárias que conheço, opôs-se a tal atitude tendo até entrado em confronto com a dita safadinha. Bizarro ainda mais, tudo isto se passando no Brasil.

A Uniban não se põe de modas e expulsa a menina Geisy.

Começa aquela onda de reações do costume. A Uniban não deve ser muito abundante em safadinhas, pelos vistos. Eu explico: só uma escassez de safadinhas naquela universidade   poderia causar tamanha (e transatlântica) dôr de cotovelo na audiência masculina. Ou então a dita safadinha também já deve ter feito das suas a alguns tristes rapazes universitários. Quem não as conhece (ainda por cima nestas idades)  que as compre! já dizemos cá em Portugal. E as mocinhas são muito profícuas em sonsarias deste género, e depois vêm com todo este show de lágrimas.

Continuando o meu débito de fel: entre as reações de vários quadrantes na sociedade, vêm as militantes alas feministas choramingando que a dita aluna é um símbolo da opressão das mulheres, blá blá a conversa do costume, até dizerem que as mulheres não podem exprimir a sua sexualidade. Ah! Então era isso! Por um lado estes sectores atacam ao primeiro sinal de assédio, gritam “falta!” e que a mulher é constantemente tratada como objecto. Mas neste caso não, a safadinha tem toda a liberdade para se passear com o pernal ao léu, e a rapaziada que se arrume (no Brasil: que se vire!) , e traga mais papel higiénico para as aulas e pronto!

Eu acho que a rapaziada devia contra-atacar e vir para as aulas com roupa mais liberal ainda  sei lá , algo que coloque bem em evidência o orgulho sexual masculino (para não dizer exposto). Sei lá! Porque à rapaziada apetece exprimir a sua sexualidade!

Conclusão: Quando as mulheres pensam que podem entrar no debate politico é uma desgraça só.

Solução: Eu digo SIM ao sistema de ensino separado por género! Mas já sei que estou só.

Tenho dito.

>> Expelled for wearing a miniskirt… in Brazil

>> Novas imagens mostram reação de estudantes a aluna com minivestido

>> Brazil minidress woman readmitted

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novembro 04, 2009

 

Medina Carreira

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novembro 01, 2009

 

A hora do Lobo

Morreu o radialista com mais tomates que este país ainda tinha. Um lobo do microfone, da noite radiofónica, e da resistência. A sua voz e a 'sua' música continuam ainda esta semana na RADAR.

Até sempre!

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outubro 29, 2009

 

O analfabeto politico

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que

  • o custo de vida
  • o preço do feijão
  • do peixe
  • da farinha
  • da renda de casa
  • dos sapatos
  • dos remédios
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
enche o peito de ar dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política, nasce:
  • a prostituta,
  • o menor abandonado
  • e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, aldrabão, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo. (Bertold Brecht)

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outubro 20, 2009

 

Fantástico

Simplesmente fantástico.

Bionic Eye Opens New World Of Sight For Blind

>> Ouvir .mp3

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setembro 13, 2009

 

Medina Carreira em entrevista á VISÃO:

 

Isto parece o Estado Novo

Excertos:

Não tem netos...
Não, mas tenho pena. Às vezes sinto falta de um, aqui, às cavalitas...

Mas atendendo ao que diz do País, não é muito prudente pôr uma criança neste mundo...
Se os pais tiverem juízo, vale a pena. Eu, se fosse pai, tentaria que o meu filho aprendesse qualquer coisa, nem que fosse para sapateiro. E que falasse bem Inglês e uma das línguas que farão falta no futuro: russo, chinês ou árabe. Toda a influência do mundo vai passar para esses países.

O senhor dá a ideia de ser uma pessoa disciplinada e disciplinadora. Tem a ver com essa sua formação, nos Pupilos?
Tem a ver com o meu pai, que era um educador a sério, exigente. A escola militar terá tido a sua influência mas eu sou também um homem de ordem. Tenho muita ordem na cabeça e pouca ordem nas mãos...

Entretanto, saiu, foi à Guiné e voltou. Veio para Portugal fazer o quê?
A escolha era entre ir para o Técnico ou não. Como não me apetecia, estava mais virado para as questões sociais, queria ir para Economia. Mas não tinha forma de ir, porque era da área de engenharia. E como admitia ter de fazer uma parte dos estudos a trabalhar, inclinei-me para Direito, que era mais compatível. Só que, vindo do ramo de Engenharia, não dava para ir para Direito. (Fazia confusão ao dr. Salazar...) Andei então para trás. Fui a Coimbra fazer um curso de Ciências Pedagógicas (CP), que me permitia saltar para qualquer curso.

Quanto tempo?
Um ano, cinco cadeiras. Mas saú então um decreto a dizer que os de CP não podiam, afinal, inscrever-se em qualquer curso...

E o que fez?
Fui ao Ministério da Educação e arranjei logo uma questiúncula. Estava lá um padre, que foi atendido primeiro do que eu, não achei bem, enfim...

Tem alguma crença religiosa?
Não, sou agnóstico. Já o meu pai era. A minha mãe é que era católica.

[...]

Casou com que idade?
Com 23 anos. Acabei o tal liceu aos 26 anos, no Liceu Camões. Dava aulas, fui empregado de escritório e técnico fabril.

No Barreiro...
No Barreiro. Era chefe do sector da produção de aço.

Para isso tinha de ter ordem nas mãos...
Para desenho e essas coisas tive sempre muito jeito. Finalmente, acabei Direito com 31 anos, comecei a advogar, etc..

Mas ainda foi para o ISEG.
Sim, o então ISE, para tirar Economia. Mas já era advogado, tinha muito trabalho e acabei por não completar.

Herdou do seu pai, que foi historiador, o sentido da História, na sua observação do País?
Herdei, sobretudo, o sentido do rigor, da disciplina, da honra, da fidelidade à palavra e o desinteresse pelo dinheiro. A coisa que me custa mais é discutir dinheiro.

Que percepção é que tinha, em jovem adulto, do Estado Novo?
A República teve de chamar o Salazar. Tinha de ser aquele ou outro qualquer. Até 1945 não era fácil ter feito muito melhor. Mas, a partir da guerra, percebi que o Salazar estava fora do tempo.

Mas já tinha alguma vocação, ou actividade política?
Actividade, não. Mas sempre tive muito interesse pela política. Enfim, estive na greve de 1962, embora mais velho que os meus colegas.

Com 27 anos, como viu a candidatura de Humberto Delgado?
Viu-se que o regime ia descambar. Mas o desmoronamento foi em 1960, 1961. E eu vejo hoje Portugal a desmoronar-se de forma parecida: sem norte, sem chefia esclarecida, sem elasticidade, sem capacidade de adaptação... Sinto hoje um Portugal tão trémulo como nos últimos dez anos do Estado Novo.

O 25 de Abril apanha-o com 42 anos. E motiva a sua intervenção política?Eu entrei para o PS antes do 25 de Abril, pela mão do meu colega e amigo José Magalhães Godinho, em 1973. Já conhecia o Mário Soares. Havia, na Baixa, um restaurante, com uma mesa sempre reservada para os advogados, e parávamos lá os que não concordavam com o regime. E foi lá que conheci o Soares. Voltei a vê-lo quando o fui esperar a Santa Apolónia, incógnito, no meio de milhares de pessoas,.

Mas o senhor alguma vez foi socialista? Quem o ouve hoje...
Aquele socialismo, que era viável naquele tempo, não é viável hoje. Esse é que é o problema. Hoje, é uma burla.

Entrou, então, no VI Governo provisório, de Pinheiro de Azevedo, para sub-secretário de Estado do Orçamento. Num período completamente convulsivo...
Eu entrei em Outubro, a pedido do Salgado Zenha, que não tinha ninguém para tratar dos impostos...

Zenha que era o seu ministro das Finanças, apesar de ter dito que não percebia nada de Finanças...
Não percebia nada daquilo, coitado, mas tinha uma boa cabeça. E era um homem honrado. E tinha uma grande equipa. O Artur Santos Silva, o Vítor Constâncio, o António Sousa Gomes, o Sousa Franco, a Manuela Morgado... A equipa de ouro, como se chamava. Fui eu - ninguém sabe, mas já agora, conto-lhe - quem propôs cadeia para a fraude fiscal. Que não havia.

E quantas pessoas foram presas até hoje?
(Risos) Talvez um desgraçado, um tal Viola, ou lá quem foi, por descuido. A partir desse momento eu percebi que isto não vai longe. Nunca irá para a cadeia nenhum trafulha por razões fiscais...

E como encontrou o Ministério das Finanças, naquela época?
A primeira vez que lá entrei era só gente, muita gente nos corredores, uma grande confusão... À porta do ministro havia uma espécie de caixote de sabão, com uma máquina de café. Um contínuo numa secretária de torcidos e tremidos, um tampo de vidro todo partido e, em cima, as imagens de umas senhoras ligeiramente despidas... Foi o meu baptismo.

No I Governo de Mário Soares, vai a ministro.
Um dia, o Zenha manda-me chamar. No gabinete dele estava o Soares. 'Você não quer ir almoçar connosco?' Fomos a uma tasquinha, em Belém, eu, o Sousa Gomes, o Zenha e o Soares. Eu estava a arrumar a minha trouxa para abandonar o ministério, tinha havido eleições ia formar-se o I Governo Constitucional. O almoço era para me convidarem para ir para ministro das Finanças. Olhe, o meu pai não gostava de política. A minha mulher via isto com muito maus olhos. Mas aquilo da política era, na altura, uma espécie de serviço militar obrigatório. E lá aceitei. Até hoje, ainda perco dinheiro com a política!

Ficou como tendo sido o artífice da negociação com o FMI...
Mas não é verdade. Quem esteve nisso foi depois o Vítor Constâncio e o Silva Lopes. Eu nem concordava com o acordo com o FMI. Aliás, vi logo que estava mal no Governo, porque não conseguia fazer a minha política, ninguém concordava comigo.

Mais tarde, Soares teve de dar carta branca ao Ernâni Lopes...
Pois, mas aí, o Soares já era outro, já tinha percebido a importância das finanças e estava apertado... E o Ernâni fez um grande lugar.

O senhor sai do PS em 1978...
Sim, em ruptura contra o chumbo, na AR, do Governo do Nobre da Costa. Depois, por influência do Mário Soares e do Almeida Santos, voltei, em 1983. Mas saí de novo, em 2000, ou 2001, por causa daquela trafulhice da reforma do património, no tempo do Guterres. Percebi que aquele partido era dirigido por gente sem palavra e eu não me dou com gente sem palavra.

Como se vê nas suas intervenções, e neste novo livro, continua zangado - e um pessimista inveterado.
Sou um pessimista sob condição. Se continuarmos com estas instituições a funcionar tal como estão, os dirigentes políticos que para aí andam e mais o seus acólitos, que vivem da política, eu sou um imenso pessimista.

Mas como não se vê grande alternativa é mesmo um...
...Pessimista! Mas imagine que aparece uma pessoa, com uma ideia política...

Um homem providencial?
Deus me livre! Não, um homem preparado...

Ou uma mulher...
Ou uma mulher, claro. Se calhar, até prefiro uma mulher. Mas que tenha uma profissão e preparação. O mal é que grande parte dos nossos políticos não tem preparação.

Os políticos profissionais também estão no poder noutros países da União, que estão melhor que nós...
Sim, é essa a diferença. Nós somos mais pobres e estamos a ficar ainda mais pobres, em relação à Europa.

Mas mais ricos do que éramos antes, não?
Trinta anos depois, tínhamos de estar um bocadinho, com qualquer regime, até com o Salazar. Mas a verdade é que nos abrimos à Europa como tínhamos de abrir, fizemos algumas coisas meritórias, mas há muito da nossa vida que é uma aparência. Daqui a cinco anos, o meu amigo pode estar a dever, sem dar por isso, 42 mil euros ao estrangeiro, quando, em 2000, devia 4 mil. Há uma parte da nossa vida que é ficção.

Mas todos os países estão endividados... Qual é o endividamento dos EUA?
Não compare. Os EUA têm moeda própria e, logo aí, têm um instrumento...

Mas o nosso problema foi a adesão ao Euro?
Nada disso, eu concordei com a adesão. Mas isso introduziu um grau de rigidez na nossa competitividade que nos está a matar.

Então foi mau...
Não foi mau. Teríamos é de fazer coisas que não fizemos, depois da adesão. Aderimos bem. Mas temos vindo competitividade, que é a capacidade de vender os nossos produtos. Dantes, disfarçava-se com o facto de termos uma moeda própria. Fazia-se a desvalorização. Lembro-me de uma sexta-feira, era eu ministro das Finanças, fui à RTP anunciar uma desvalorização de 15 por cento. Na segunda-feira seguinte, aquilo que comprávamos ficou 15% mais caro. E o que vendíamos, 15% mais barato. Ao perder o instrumento de manobra cambial introduzimos uma rigidez a que os políticos não ligaram suficientemente.  Diz que eu estou pessimista? Olhe, no outro dia, depois de ter ido à SIC, houve um grande economista que me ligou e me disse: "A única coisa em que discordo de si é que eu estou um bocado mais preocupado..."

Mas o senhor já fazia previsões catastróficas há dez ou 15 anos. Nesta altura Portugal já não devia existir. O que correu menos mal?Catastróficas, não! O que eu digo - e se calhar, essa mensagem não passa - não é para "amanhã". A sociedade portuguesa está viciada em falar "ontem" para "amanhã". Ora, a direcção que o nosso País leva não se mede entre dois centímetros, mas em dois metros. E se vir como estávamos em 2000 e como estaremos em 2010, verá. A longo prazo, anda não errei nada! Em 1995 escrevi um livro sobre políticas sociais. E disse que era absolutamente necessária uma reforma da Segurança Social antes do séc XXI. Ela só se fez agora, em 2006... Este ministro fazia parte da equipa que engonhou aquilo tudo. Disseram ao Guterres que isto estava garantido até ao fim do séc. XXI! Quem percebe isto dez anos depois, não deve ser ministro!

Mas olhe que os economistas falham muito nas suas previsões. Viu-se na crise e está a ver-se nas previsões sobre a retoma...
O problema é diferente. Temos de olhar para os gráficos. Para a evolução da nossa Economia. A tendência de estagnação e empobrecimento. É perante esta tendência que eu digo "cuidado". Porque, ao mesmo tempo que temos uma economia menos produtiva, temos um estado que exige cada vez mais meios para sustentar os seus compromissos sociais! E a despesa social está a crescer três vezes mais do que a Economia!

Mas num país em que as pessoas já passam tantas dificuldades, podemos prescindir das despesas sociais do Estado? Não seria ainda pior, para as pessoas?
Mas isso não serve de nada! O senhor não pode fazer política social com dinheiro emprestado!

Mas o senhor, que já critica tanto os serviços públicos, o que diria se o Estado fechasse ainda mais a torneira?
Eu não critico os serviço públicos por uma questão de falta de dinheiro. Critico, por exemplo a Educação, que é uma vergonha e um crime que os políticos estão a cometer. Critico o funcionamento da Justiça. A burocracia.

Mas melhorou  um pouco... hoje podemos pagar os nossos impostos pela internet, por exemplo... Não podemos estar sempre a dizer mal de tudo...
Não quero subestimar essas coisas! Isso é óptimo! É um salto qualitativo dos serviços públicos! Mas isso não tem a ver com o sistema  fiscal, que  não está melhor. Está cada vez pior. Nesta área, o sistema legal está péssimo. O de execução melhorou muito, graças ao Paulo Macedo [ex-director-geral dos Impostos]. Mas o dos tribunais está, também, péssimo. As minhas críticas são de estrutura.

Se lhe pedissem que lhe salvasse as Finanças do País, faria um discurso similar ao de Salazar, quando lhe pediram o mesmo? É que o diagnóstico que faz do estado do País é idêntico ao que ele fazia...
Há uma parte do diagnóstico que é parecido. Nós chegamos a um ponto em que gastamos muito mais do que aquilo que fazemos. O contexto do Salazar era muito próprio. Quando foi convidado, a primeira vez, esteve cá cinco dias. Percebeu quem era aquela gente. Mas em 1928 estávamos estrangulados. E o Salazar vinha escrevendo que isto só tinha uma solução, mexer no Orçamento. Com os empréstimos externos cortados, tiveram de ir buscá-lo. Portanto, isto dá-nos uma lição: ou percebemos a tempo a nossa doença, ou um dia teremos um Salazar.

Então, é de uma pessoa dessas que está à espera.
Não, não estou à espera. É verdade que ele, entre 1928 e 1945, tirando as tropelias politiqueiras, foi o tipo de que o País precisou. Mas a desgraça recomeça em 1945. E, a partir de 1960, foi o fim. Nós, hoje, para mantermos uma política orçamental, mantendo as despesas sociais, temos de arranjar outra economia. E temos de reduzir as despesas.

Despesas sociais?
Inevitavelmente, algumas. Só o dinheiro que a malta recebe do Estado leva 78% do bolo... A única coisa que podemos fazer é fazer com que a Economia dê mais dinheiro. Senão, temos de reduzir despesas, a doer.

Compara muito estes tempos com o estertor final da monarquia. Em que havia, se descontarmos a efémera ditadura de João Franco, dois partidos, esgotados e corruptos, que se alternavam no Poder - os progressistas e os regeneradores. Como o PS e o PSD de hoje?
Esta democracia não funciona. Os partidos fecharam-se porque não querem gente de qualidade lá dentro.

Ou é a gente de qualidade que não quer ir para os partidos?
Talvez, também. Mas é mais provável a primeira hipótese. Os partidos tomaram conta do dinheirito e as pessoas lá dentro esgatanharam-se para disputar a mesa do Orçamento. E o pessoal de qualidade está a governar-se por fora. O que tem a ver com as grandes obras que este Governo quer fazer, para dar dinheiro a ganhar a alguém. Estes projectos são criminosos.

O TGV, o novo aeroporto...
Todas essas porcarias! Não são absolutamente essenciais, em primeiro lugar. E precisamos é de um Governo que crie as condições para atrair investimento estrangeiro e interno.

Mas um País sem produtos naturais, petróleo, diamantes, etc., o que deve fazer para enriquecer? Que clusters deve explorar?
Não me interessam os clusters. Preciso é de ter um conjunto de condições que atraiam investimentos. externos e internos.

Os internos... enfim, há quem diga que os nossos empresários são tão fracos como o próprio país...
Costumamos dizer quer os empresários são sempre incompetentes, os advogados uns gatunos, etc... Tudo isso tem uma parcela de verdade, todos nós temos uma certa rasquice incorporada... Temos que viver com ela. Mas não estamos cingidos aos empresários nacionais. Temos é de arranjar condições para que quem queira investir, invista. Essa coisa dos clusters é tudo conversa. Numa economia de mercado é o investidor que escolhe.

Mas num País sem recursos, o Estado tem de revelar alguma imaginação para estimular isso...
O Estado tem de ter caco: os tribunais a funcionar bem e impedir que só haja imbecis a sair da escola. Isto é que são funções do Estado. A sua é escrever, a minha papaguear e a dos empresários investir! E eles investirão, se ganharem dinheiro. Ora, com o sistema de Justiça, a funcionar como funciona, o sistema fiscal também, e a corrupção a alastrar, ninguém vem para cá. Se o Estado fizer isto bem feito - e não é pouco - já actuará bem.

Mas a deslocalização do investimento não afecta só Portugal. Também afecta os nossos parceiros, onde há mais protecção aos trabalhadores.
Os governos têm de dizer: 'Meus senhores, ou querem os empregos e passam a ganhar menos, ou querem mais dinheiro e não há tantos empregos'. As pessoas podem optar - e a democracia é isto. O País pode dizer: ' Ah, então antes queremos ser pobrezinhos, enrascados, passar o tempo na praia a apanhar sol' e tal. Pronto, então tudo bem. Ou então as pessoas querem viver melhor - e a malta quer viver melhor, coitada! E com toda a legitimidade.

Há uma ideia sua, neste livro, em que lembra que outros, na Ásia, ganham menos, não têm contratos vinculativos nem poder reivindicativo, nem são defendidos por organizações sindicais. E o senhor acha isto bem?
Eu não acho bem!

Mas quer que se faça igual!
Não. O que eu digo é que se o senhor não tiver nada, nenhum trabalho e, portanto, nenhum rendimento, como é que vive?

Temos de optar pelo mal menor?
O que eu digo é que as pessoas, ou o Governo, não fazem a mínima ideia do mundo em que vivem.

Mas uma das soluções é pôr o País a funcionar, em termos laborais, como a Ásia...
Não é como a Ásia! Os outros países da Europa funcionam!

Mas estão com problemas similares aos nossos, desse ponto de vista do emprego...
Mas já viu populações ricas num país pobre, que não produz? Isso é que nunca existe.

E nos programas eleitorais, viu alguma proposta que o entusiasmasse?
Não. Os programas eleitorais, com a dimensão que têm, são uma falcatrua.

O do PSD é mais sintético.
Está bem, mas tenho ouvido o que a dra. Manuela Ferreira Leite tem dito e chega-me. Os programas são uma burla. Feitos para ninguém ler. São como as apólices de seguro: feitos para o eleitor nunca ter razão. Estão a fazer do pagode idiotas chapados.

Mas o CDS propõe baixa de impostos, o PSD quer acabar com o pagamento especial por conta... coisas que o senhor também defende.
O CDS não percebeu que diminuindo os impostos, o Estado tem um défice maior.

Mas o senhor também defende essa baixa, neste livro.
Mas quando for viável.

Mas isso é o que diz a líder do PSD!
Está bem. Mas neste momento não é possível nem vai ser tão cedo.

Nem para atrair o tal investimento estrangeiro?
Isso é outra coisa. Se fizermos as contas e tivermos a certeza de que resulta, então sim, é um toma lá dá cá. Mas dar borlas para depois eles não virem para cá, isso não. Se a Economia não mudar, os problemas financeiros agravam-se, os problemas sociais também e os políticos. A economia é o suspensório.

O senhor preconiza um governo de iniciativa presidencial com dirigentes que venham das profissões...
... Ou dos partidos.

Mas isso é fazer tábua rasa de eleições.
Não é. Claro que os partidos teriam de concordar com esta solução transitória, para poderem fazer uma limpeza, renovar-se. A ideia era atirar para outra entidade a solução que os partidos não encontram.

Mas tanto Guterres como Sócrates foram buscar independentes e pessoas vindas, por exemplo da Academia.
Essas coisas, normalmente, são para apanhar uns oportunistas. Têm sido uns pára-quedistas.

Mas veja o prof. Sousa Franco, por exemplo. Um académico, que não era aparatchik de nenhum partido. Ou no Governo Sócrates, que também teve figuras com este perfil. E as coisas não mudaram muito...
Veja: no Governo Sócrates, o Campos e Cunha saiu quatro meses depois. Porquê?

Mas como avalia o desempenho do seu sucessor, Teixeira dos Santos?Avaliei positivamente até ao momento, há um ano e meio, dois anos, em que ele também começou a ser politiqueiro.

Mas um Governo de iniciativa presidencial tem mesmo pernas para andar?Não. Mas o que quero dizer é uma coisa parecida, alguém com o consenso do PS e do PSD.

Um Bloco Central sem Bloco Central?
Exactamente. Alguém a quem se confira um mandato de confiança.

É quase um concurso público e a melhor oferta governava o País...
Não, era dar a possibilidade de os partidos terem quatro ou cinco anos para se arrumarem e correrem com a escumalha que para lá anda.

E se o País sair ingovernável das eleições? Cavaco - que o senhor apoiou - não deverá ter alternativas em cima da mesa?
O que eu sei é que se nenhum partido tiver maioria, entramos num caminho em que o dinheiro que vem lá de fora vai acabar. O primeiro solavanco que teremos, já na próxima legislatura, será um problema de crédito externo.

Mas se for tirar a um português de classe média o seu segundo carro, as férias em Cancoon e o pequeno-almoço fora todos os dias, porque ele que deve não sei quanto ao estrangeiro, como acha que ele lhe responde? Não dirá 'quero lá saber'?
Se me derem uma hora e meia em televisão, em canal aberto, garanto que viro muita gente do avesso. Basta começar a falar na qualidade da educação e de onde isso nos levará.

Mas, no seu tempo, a Educação tinha melhor qualidade? Com meio país analfabeto? E se tinha, como chegámos à situação actual?
Lá está você a confundir! Para as pessoas aprenderem não era preciso estarem lá todos! O abandono escolar, quando é feito por aqueles que não andam lá a aprender nada, é uma coisa boa! Nem gastam dinheiro à gente nem chateiam os outros! Esta ideia imbecil da escola inclusiva serve para depositar dentro de quatro paredes uns tipos! Para que o eng.° Sócrates e a Maria de Lurdes Rodrigues lhes passem, depois, um papelucho! Um tipo com cabeça devia perguntar, olhando para o papelucho: 'E isto serve para limpar o quê?'

Mas exagera um bocadinho. No seu tempo, em que a escola era tão "boa", havia 30 ou 40% de analfabetos. Hoje não há uma criança que não saiba aceder à internet. Não acha que melhorámos?
Se a criança souber ler, escrever, ler, contar, pensar, expor, tudo bem. O Magalhães vai morrer por si próprio. As crianças escangalham aquilo tudo rapidamente ou vendem-no na Feira da  Ladra...

Mas os paradigmas do conhecimento mudaram, em relação ao seu tempo. É melhor ter computador do que não ter...
Sim, mas as coisas têm o seu tempo. Eu prefiro que eles estudem a tabuada. O problema é que isto é dirigido por gente que apanhou uns diplomas. Se tivessem estudado 30 anos, como eu estudei... Esta gente, a Lurdes Rodrigues, o Sócrates, etc., são do tempo do diploma fácil... É como as Novas Oportunidades, uma trafulice que ptretende dar em seis meses formação que só pode adquirir-se em três anos. Os patrões não vão engolir isso, quando se tratar de empregar as pessoas. Os asiáticos estão a progredir porque exigem muito mais do sistema educativo.

Mas alguma vez tivemos tanta gente qualificada como hoje, em Portugal?As elites são mais qualificadas do que no meu tempo. Mas o resto é muito pior. Eu deixei de ensinar, porque era um horror. Um dia encontrei um moço a quem perguntei: 'Mas, afinal, quando é que se vai embora? Quanto exames já fez comigo?' 'Fiz dez', disse ele. Quem quer estudar deve estudar. Quem não quer, mais vale fazer outra coisa. O que critico, no ensino inclusivo, é não dar alternativas na saída profissional, para quem não tem capacidade para chegar à universidade.

Falou das eleites. No livro acusa os banqueiros, que se supunham fiáveis, de se mostrarem indignos de confiança. E aponta o dedo ao País. Mas isto não sucedeu, ainda com maior acuidade, nos outros países?
Sabe que o Madoff já está atrás das grades. E os EUA são os EUA. E eles, enquanto tiverem uma moeda que é aceite em todo o mundo...

Nós também temos...
Não é bem nossa. Nós somos uns penduras que estamos lá. Mas os EUA têm a nota verde. Enquanto a tiverem, e o potencial de riqueza que têm, não tenha pena deles. Mas essa história dos banqueiros é completamente chocante. Eu não sou contra as altas remunerações para quem, realmente produz em conformidade. Mas, tirando um ou outro, os que estão na alta finança, e que vêm, muitas vezes, dos partidos, são uns aselhas como os outros. E estas pessoas ganhavam milhões por serem gestores geniais! E sérios!

Neste livro, o senhor decreta o fim da social-democracia e do Estado social.
Eu não decreto. A realidade é que decretou. Não há democracia válida se os países não tiverem sustentabilidade económica. Acha que temos uma democracia a sério? Olhe, eu queria uma democracia como esta: o senhor Olmert, primeiro-ministro de Israel, foi acusado de se ter abotoado com uns dinheiros. Vai ser julgado. O presidente da República envolveu-se num escândalo sexual. Foi despejado. O senhor Nixon fez aquela pantominice do Watergate e foi-se embora. Uma democracia tem de ter um sistema judicial que funcione. E em Portugal? É o Freeport, são os sobreiros, os submarinos, os bancos... Tudo! Em Portugal, o Poder não quer que a justiça funcione. porque isso lhe trará dissabores.

Mas voltemos ao Estado social e à social-democracia...
A social-democracia tenta igualar o mais possível a dstribuição de riqueza e desenvolver um conjunto de mecanismos que protege as pessoas em dificuldades. Foi um óptimo sistema enquanto houve dinheiro. E havia poucos reformados, e os estados tinham política económica. Agora, os estados receberam o passivo das políticas sociais, mas não os aspectos positivos: riqueza, pleno emprego, etc.. Se desapareceram os alicerces do Estado social, este passou a ser ficção. Estamos a fingir. Ou os políticos social-democratas repõem a economia, ou nada feito.

Mas o senhor profere estas afirmações numa altura em que o neo-liberalismo falhou mais clamorosamente e as ideias do socialismo democrático parecem regressar...
O que se passou foi o abuso da liberdade contratual.

Por ineficácia do Estado como regulador...
Exactamente! E eu não sou nada contra a intervenção do Estado! Mas a razão por que esta crise não me preocupou tanto como à maior parte das pessoas, foi porque, em 1929, os estados ficaram quietos. Desta vez, agiram.

Mas agiram num sentido mais esquerdizante...
Fizeram o que tiveram de fazer.

O que nos remete para o regresso ao papel do Estado social...
Pois, mas isso é um regresso de um instrumento da social democracia, não da social-democracia.

Mas o senhor professor não indica, neste livro, uma alternativa válida a esse sistema de Estado social a que as pessoas se habituaram a viver.
Não há ainda alternativa. Estamos a caminhar para qualquer coisa que ainda não é bem definida, tal como a internacionalização da Economia não é ainda clara. Estamos numa nublosa e ninguém sabe qual é a ideologia que vem a seguir. O que eu digo é que terá de ser conforme as novas circunstâncias.

À luz destas reflexões, o que pensa das políticas de Barack Obama?
Eu sou suspeito porque tenho por ele grande admiração.

Ele está a gastar mais com políticas sociais.
Mas eu estou de acordo com ele. Nomeadamente no que diz respeito á reforma na Saúde.

Mas então está a entrar em contradição com as suas próprias convicções...
Não. Nós temos é de ter um Estado social de dimensão conforme com a Economia. E os EUA têm ainda muito poucos encargos sociais e uma carga fiscal muito baixa. Em Portugal, temos de talhar o fato a partir daquilo que a Economia render. Mas temos de ter um Serviço Nacional de Saúde e Educação pública de qualidade.

Diz, no, livro, que entrámos no período de maior decadência depois do 25 de Abril. Mais do que no PREC ou os tempos de quase banca rota do início da década de 80?!
São contextos diferentes. Agora estamos em velocidade de cruzeiro, e não sob perturbações políticas decorrentes da revolução. E é com ese critério que eu defendo essa tese.

O que achou desta polémica sobre a TVI?
Senti-me a viver no Estado Novo. Não me lembro de nada tão estranho, em democracia. Primeiro tentam comprar a estação. Depois desistem. Depois correm com um tipo. Depois alguém telefona de Espanha... Bem, eu, como desconfiei sempre do Estado Novo, também desconfio disto.

O senhor professor vai votar?
Não sei, é uma angústia que tenho. Ainda não decidi nada. Mas estou com muito medo dos próximos quatro anos.

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setembro 02, 2009

 

Por Miguel Sousa Tavares
Segunda-feira, 29 de Jun de 2009
Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e
na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo
percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é
uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão
pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito
cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis.
Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está
espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como ?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que
o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto ,
vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro , por exemplo, não há
nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio .
Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na
poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional
está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que
produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como ?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha
Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando
'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há
restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de
'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por
isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado
perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três
horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo , Madrid -Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal , de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km .
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto ?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me
falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV
deles para Salamanca ; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital
Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota,
para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois,
pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e,
finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como : então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta
para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos
os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a
fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a
auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os
bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é
que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto,
nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o
justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com
Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como ? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela
pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50
quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da
cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as
companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um
pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um
hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a
Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que
é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber,
serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o
perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura
não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para
nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o
que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se
para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo
fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas
as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e
enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento.
E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar
como Portugal ! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!

Miguel Sousa Tavares

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